Página inicialCães e imaginário. Literatura, cinema, banda desenhada
Cães e imaginário. Literatura, cinema, banda desenhada
Chiens et imaginaire. Littérature, cinéma, bande dessinée
Dogs in the imagination. Literature, cinema and graphic novels
Publicado mardi, 05 de décembre de 2017
Resumo
Desde os primórdios da criação estética, cuja cena primitiva se localiza em grutas pré-históricas, o imaginário humano incorporou, nas suas diversas modalidades e sob pontos de vista múltiplos, a condição animal. Ao longo dos séculos, nele tem sido presença constante e lugar de destaque a figura do cão cujos laços afetivos com o humano são testemunhados por achados arqueológicos pré-históricos, desde o dia em que os primeiros lobos ou chacais se aproximaram dos homens caçadores-coletores. Enquanto figuração da alteridade o cão permitirá abordar, sob um ponto de vista diferente ou radicalmente novo, questões como a discriminação social e racismo, emigração, velhice e morte, pós-colonialidade, género, ambiente e ecologia, património cultural e histórico, alterações climáticas, interacção homem- máquina e pós-humanidade.
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Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho
Braga, Portugal, 14 e 15 de junho de 2018, auditório do ILCH
Apresentação
Desde os primórdios da criação estética, cuja cena primitiva se localiza em grutas pré-históricas, o imaginário humano incorporou, nas suas diversas modalidades e sob pontos de vista múltiplos, a condição animal. Ao longo dos séculos, nele tem sido presença constante e lugar de destaque a figura do cão cujos laços afetivos com o humano são testemunhados por achados arqueológicos pré-históricos, desde o dia em que os primeiros lobos ou chacais se aproximaram dos homens caçadores-coletores.
A relação do cão com o invisível e com a morte, aliada aos seus dons divinatórios e ao papel de intermediário ou tradutor entre dois mundos, fazem dele uma figura simbólica complexa e ambivalente. Representações cinocéfalas podem ser encontradas em diversas culturas e tempos: de Anúbis, deus egípcio dos mortos e condutor de almas, corpo de homem e cabeça de cão (ou chacal) a certas representações de São Cristóvão na Igreja Ortodoxa. Culturas como a celta ou em certas tribos da Oceania, atribuem-lhe um significado diurno, associando o cão à valentia guerreira, à potência sexual e à conquista do fogo. Outras, como a greco-latina, cultivam uma certa ambiguidade entre um significado noturno, associando o cão à morte, ao oculto ou ao mundo interior, e um significado diurno, associando-o à amizade e à fidelidade: Cérbero, o monstruoso cão de três cabeças vigilante do reino dos infernos e os cães que devoram Actéon, transformado em veado como castigo de ter surpreendido Ártemis nua no banho, são exemplos que viriam a ter uma grande fortuna na história da representação literária e artística ocidental, assim como Argos, o velho cão de Ulisses, dando sinais de reconhecer o antigo dono e companheiro no seu regresso a Ítaca.
Ao longo dos séculos é perfeitamente possível rastrear a evolução do pensamento humano e das mentalidades tendo como ponto de observação o modo como o cão surge figurado não apenas nos mitos, nas lendas, nas fábulas, nas églogas, nos lais, nos contos, nos romances, na banda desenhada, nos desenhos animados, no cinema, mas em todo o tipo de discursos (filosóficos, teológicos, científicos, etc.).
Assim, se o cão é para a mentalidade medieva uma figura associada à fome e também à magia, ao mal e ao demoníaco, o animal proscrito da Jerusalém prometida, e de algum modo, representação do desconhecido e estranho ou estrangeiro, Husdent, o vivaz cão de caça de Tristão, é um dos elos de amor indestrutível que une Tristão e Isolda. Já no Renascimento o cão (de caça) se torna um atributo da nobreza, com honras de entrada na heráldica e lugar de destaque na pintura e na retratística enquanto no Naturalismo, por via do crescente interesse pela patologia social e pelo evolucionismo, o cão adquire foros de personagem, denunciando os vícios, a ganância e a corrupção de uma sociedade cada vez mais dominada pelo dinheiro, como o tornam visível o cachorro Quincas Borba de Machado de Assis (ostentando o mesmo nome do dono) ou contos como “A dama do Cachorrinho” de Antón Tchékov. Denúncia que, de resto, a consciência moral burguesa procurará neutralizar pela via do romance policial, como acontece em O Cão dos Baskervilles de Arthur Conan Doyle.
No que diz respeito à contemporaneidade, o interesse pelo animal e, em especial, pelo cão, deve-se ao facto de ele permitir uma significativa descentralização antropológica, questionando o lugar do humano na tradicional hierarquia das espécies, a descentralização por intermédio da qual o homem se assume como mais um ser entre outros no ecossistema existencial e o cão o seu “companion species”, convocando ao mesmo tempo o cruzamento inovador de áreas disciplinares que vão da filosofia e estudos literários à antropologia e biologia, da genética à etologia e zoopoética, da engenharia à cibernética. Nas várias manifestações estético-culturais a que vamos assistindo, o cão adquire assim cada vez mais contornos humanos, ganhando crescente protagonismo ao mesmo tempo que o homem é redefinido como animal humano.
Enquanto figuração da alteridade, o cão permitirá abordar, sob um ponto de vista diferente ou radicalmente novo, questões como a discriminação social e racismo, emigração, velhice e morte, pós-colonialidade, género, ambiente e ecologia, património cultural e histórico, alterações climáticas, interacção homem- máquina e pós-humanidade.
Desde Laika, a primeira cadela a orbitar o planeta terra, a Lassie, a primeira a entrar numa série de televisão, ambas nos anos 50 do século XX, são muitas as representações canídeas nos domínios da criação literária, da realização cinematográfica e da narrativa gráfica. Lembremos o cocker spaniel Flush (1933) de Virginia Woolf e a sua visão de Londres, Mr Bones, o cão rafeiro de Timbuktu de Paul Auster (1999), Rambo, o pittbul de Myra de Maria Velho da Costa, os inúmeros cães de Saramago ou o Cão Branco de Romain Gary, adaptado ao cinema por Samuel Fuller em 1982; Milou, companheiro fiel de Tintin, Ideiafix, o cão de Obelix, Rantanplan, “o cão mais estúpido do universo” ou, do outro lado do Atlântico, Goofy Goof, companheiro de Mickey, e Snoopy, cão filósofo, com o seu inseparável amigo Charlie Brown têm alimentado o imaginário canídeo de gerações. O cachorro de Charlie Chaplin em Uma vida de Cão, os 101 Dálmatas da Disney e a sua versão cinematográfica, assim como Hachiko (Amigo para sempre, 2009) de Lasse Hallström, Max: o cão herói (2015, de Boaz Yakin) ou o documentário Heart of a Dog (2015) de Laurie Anderson, são apenas algumas das representações fílmicas mais recentes, às quais poderíamos certamente acrescentar ainda a presença do cão no domínio dos videojogos ou das séries televisivas.
O colóquio Cães e Imaginário: Literatura, Cinema, Banda Desenha pretende refletir sobre a inescapável presença do cão nessas três modalidades estético-expressivas. São particularmente bem vindas propostas focando relações intermediais.
Submissão de propostas de comunicação
Para submeter uma proposta de comunicação, deverá enviá-la
até ao dia 15 de janeiro
sob a forma de um resumo de 200-300 palavras, acompanhado de uma breve nota biobibliográfica, para o email : coloquioLCBD@gmail.com
As comunicações não ultrapassam os vinte minutos
Os textos das comunicações serão submetidos à revisão por pares (peer review). Os que forem selecionados farão objeto de uma publicação.
Línguas de comunicação
Português, Francês, Inglês, Espanhol
Calendário
-
15 de janeiro : data limite para enviar as propostas de comunicação (resumo de 200-300 palavras).
- 25 de janeiro: date limite para a resposta da Organização.
- 1 de maio: programa definitivo.
- 14-15 de junho: Colóquio.
Comissão Científica
- André Corrêa de Sá (Un. de Santa Barbara, Califórnia)
- Anne Simon (EHESS)
- Cândido Oliveira Martins (FacFil)
- Charles Feldhaus (Un. E. Londrina)
- Dorothea Kullman (Un. Toronto)
- Eunice Ribeiro (UMinho)
- Helena Pires (UMinho)
- Iolanda Ramos (FCSH)
- Irène Langlet (Un. Limoges)
- José Almeida (FLUP)
- Miriam Ringel (Un. Bar-Illan)
- Nuno Simões Rodrigues (FLUL)
- Pedro Moura (FLUL)
- Xaquin Nuñez (UMinho)
Comissão Organizadora
- Ana Lúcia Curado
- Cristina Álvares
- Isabel Cristina Mateus
- Sérgio Sousa
Categorias
- Representações (Categoria principal)
- Pensamento, comunicação e arte > Linguagem > Literatura
- Pensamento, comunicação e arte > Representações > Culturas visuais
Locais
- auditório do ILCH, piso 0, Instituto de Letras e Ciências Humanas, Universidade do Minho
Braga, Portugal (4710-052)
Datas
- lundi, 15 de janvier de 2018
Palavras-chave
- imaginário, intermedialidades, ficção, cão
Contactos
- Cristina Alvares
courriel : calvares [at] ilch [dot] uminho [dot] pt
Urls de referência
Fonte da informação
- Cristina Alvares
courriel : calvares [at] ilch [dot] uminho [dot] pt
Para citar este anúncio
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